sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A criança e o ar


 
A criança, deitada no colo da mãe, respirava e sentia a respiração da mãe. Sob o efeito de um anseio profundo de comunhão, uma vez tendo consciência da respiração de sua mãe, procurava sincronizar a sua à dela.

A criança não conseguia fazê-lo perfeitamente. Segurava o fôlego, mal inspirava, soltava o ar longamente depois, ofegava, ficava sem ar. Apesar da dificuldade, não podia mais respirar livremente. Tinha de respirar com a mãe, no mesmo ritmo, na mesma cadência. Quando conseguia, sentia-se mais ligado a ela. Desconfiava que algo profundo os unia.

A criança, já adulta, não se liberta desta necessidade de comunhão profunda com a pessoa amada. Deitado na cama com a mulher, no silêncio profundo da noite e dos corpos exaustos, ele procura sincronizar, lentamente, sua respiração à dela. Ainda tem a mesma dificuldade: segura o fôlego, mal inspira, solta o ar longamente, ofega, fica sem ar. Todavia, sentia aquele antigo alento quando conseguia, finalmente, sincronizar sua respiração à dela.

A mesma ânsia, a mesma necessidade. A falta de liberdade ligada à consciência de que realmente não é livre, de que não consegue viver, de que não pode respirar longe dela.

2 comentários:

Clarinha disse...

Sempre escrevendo bem. E bonito.

Fabi e Eder disse...

passei por aqui querido,
beijos
fabiana