quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Viagens, Alain de Botton, Paloma, Fernando Pessoa

Amanhã, começo uma viagem relativamente longa. Vou ver paisagens que nunca vi antes, fazer coisas que nunca antes havia feito, falar outras línguas, falar português, vou cantar, ficar silencioso em alguns caminhos. Vou me sentir tímido, vou me jogar em situações, misturar-me ao todo. Durante viagens, é assim. A gente aprende mais, lê mais (no meu caso), diverte-se mais. Enfim, é impressionante a viagem. Estou lendo, agora, um livro de Alain de Botton, em inglês, The Art of Travel, que fala coisas interessantíssimas, e que merece ser lido. Agora, depois de conversar com a Paloma, que pensa outras coisas interessantíssimas, posto aqui um poema a que sempre retorno, de um poeta a que sempre todos retornam: Fernando Pessoa. Quem não leu Fernando Pessoa está tendo defeito de formação, ainda mais porque ele se contradiz o tempo todo, e a formação precisa de contradições, negações, paradoxos. E, nesse tempo de tantas dúvidas, é melhor ter orgulho de nossos erros do que viver em culpa. Enfim, Lisbon Revisited.

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafisica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas

Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) ¬
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!

Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!

Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!
Ó céu azul o mesmo da minha infância¬,

Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!

Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo …
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio, quero estar sozinho!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Pé rachado

O meu pai era goiano
Meu avô, também goiano
O meu bisavô, goiano
Meu tataravô, goiano
Meu maestro soberano
é - entrego - outro goiano.