quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Manhã

O homem acorda às sete horas da manhã e dirige-se ao banheiro para tomar uma ducha. A mulher dorme na cama por mais 20 minutos, quando finalmente decide pegar suas roupas em seu quarto, na próxima porta. Uma decisão acertada, quartos separados, suas coisas sempre previsivelmente nos lugares adequados. O homem sai do banheiro, cheiro de sabonete com loção pós-barba, refletindo, novamente em seu quarto, sobre a gravata que seus colegas de trabalho verão pendida sobre sua camisa branca. A mulher sai do banheiro já vestida, abre a porta para deixar sair o vapor e começa a maquiar-se, preocupada com o fim próximo do batom de que mais gosta, preocupada sobre a possibilidade de usar a sandália mais bonita num dia provavelmente chuvoso, preocupada com os prazos e as entregas do dia. O homem olha o dia cinza através da janela enquanto seu café esquenta no fogão. Ele pega o corredor em direção à sala para fumar um cigarro na mesa de centro. Ouve passos do casal de vizinhos saindo para levar seus filhos correndo para suas escolas, para depois seguirem para o trabalho. Eles não têm filhos, não sabem mais se querem  ter. A mulher entra na cozinha, pega a salada de frutas e duas torradas, tira uma xícara de café do bule que esfria. O homem pega suas chaves penduradas no corredor, avista a mulher na cozinha e diz “tchau” e desce pelo elevador. A mulher termina de comer suas torradas, calça suas sandálias, desce os dois lances de escada que a separam da garagem, entra no carro e vai para seu escritório. Havia uma chuva monótona caindo sobre o pára-brisa dos dois carros, que seguiam por avenidas paralelas.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Estas coisas

Estas coisas me definem.
Olhando longe pela janela,
Penso sempre em minha sina
Quando se forem todas elas.

Haverá sentido em falar
De mim como sou (estarei morto?),
Em vez de outro, ignaro
Do ser anterior, agora oco?

Mortas coisas e pessoas,
Morto eu? Falso sobrevivente,
Andando a esmo inutilmente,
Corpo sem mente?

Ser sem nexo,
Renascido das cinzas
Não para ser Fênix
Mas novamente cinzas?

Do que chamar este estranho
Bando de cacos, ator sem roteiro,
Amnésia ambulante,
Sem eira, sem beira e sem paradeiro?

Chamar pelo mesmo nome?
Palavras deslizam entre entes
Díspares ao longo do tempo,
Sem algo que as dome.

Este alter ego nascido
No meio da vida, com peito
E cabeça vazios, exige
Porém algum respeito.

Que ninguém ouse
Desacatar este novo senhor, 
Esta outra coisa
Que logo sou.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

La chica de la noche

Nós nos viamos há vários anos. Às vezes, quando já estavamos juntos, alguém deixava cair uma colherinha e acordávamos. Pouco a pouco fomos compreendendo que nossa amizade estava subordinada às coisas, aos acontecimentos mais simples. Nossos encontros terminavam sempre assim, com o cair de uma colherinha na madrugada. (Gabriel García Márquez - Olhos de Cão Azul)

Não vou fazer uma declaração de amor. O que eu sinto é sobretudo este espanto de entender que meus olhos são olhos transparentes de sentimento quando te vejo. Quando te beijo. Nas noites insones em que conversamos, sua pele clara semeava luz no meio da escuridão, eu me perdia profundamente no seu corpo. Minha vontade era seguir suas veias evidentes e me perder eternamente para não me encontrar nem jamais saber de mim. Ser isto: seu sangue, sua carne. Te habitar.

Nossa vida foi sempre formada por sonhos que não esquecemos ao acordar. Nossa vida nunca teve coerência alguma com nossa vida juntos e nós não ligamos para isso. Você é la chica de la noche, já que eu nunca pude tê-la como belle du jour e penso que talvez seja melhor assim. Nem você pôde me ter como queria. Foi tudo da maneira que são os sonhos, foi tudo fugaz, algo se escorreu entre nossos dedos e não pudemos acreditar.

A vida sonhada é vivida, a vida vivida é sonhada. É preciso convencer a todos que façam de cada história de amor sonhada a história vivida, de cada história vivida o amor sonhado. Assim, em silêncio, porque as palavras sempre foram inúteis e confundem mentes e corações. Convidar a todos que conheçam, ao menos em sonho, a chica que conheci numa noite atormentada e que me fez dormir bem desde então. Os seus cabelos negros sobre os meus cabelos negros se misturam e compõem uma matéria que alguns chamam de sono.

Volte para mim, meu amor. Por favor, me faça dormir de novo.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Joaquim não conseguia andar

A mãe de Joaquim já havia tentado de tudo, mas era sempre a mesma coisa. Logo que ele começava a caminhar, desprendia-se do chão e começava a voar. Joaquim, vem pro chão agora. Mamãe está te chamando, Joaquim. Joaquim, por favor. Joaquim, vem cá. As outras mães estavam cada vez mais preocupadas. Duas crianças do prédio já haviam tentado voar como Joaquim. Os vizinhos estavam alarmados. Para segurança de todos, foram instaladas grades em todas as janelas. Não havia como continuar assim. Porém, era só o menino descer para aprender a andar que sempre acontecia o mesma coisa: ele flutuava até a altura dos ramos mais altos das árvores e iniciava diálogos musicais com os passarinhos.

Falar era outro problema. Joaquim tinha, naquela altura, um vocabulário bastante extenso, muito mais vasto do que o das crianças de sua idade. Mas não conseguia falar “eu”. Não entendia seu significado, não conseguia separar entidades. Para ele, parecia que mãe, carrinho, pai, pássaro, árvore, chocalho, assovio, carinho e tudo mais era “nós”. Ele dizia coisas como “nós vamos comer para ter fome”. Era tanta frase contraditória que dava medo. Joaquim, por favor, vem cá. Ele vinha, sempre sorrindo. E voando, claro. “Nós entremeamos, mamãe”. Era tanta palavra difícil, a mãe estava aflita com Joaquim conjugando perfeitamente verbos complicados e não sabendo falar “eu”.

Os vizinhos pensaram em fazer um abaixo-assinado para expulsar Joaquim do condomínio. Contudo, nem havia o que argumentar. Voar não fazia barulho em horários inapropriados. Tampouco havia pagamentos em atraso. Os pais de Joaquim, para complicar, eram uma simpatia só. Eram tão solícitos que ninguém tinha coragem de iniciar uma moção contra a família. E mesmo o menino nunca parava de rir. Os moradores dos andares de cima podiam ouvir até melhor a gargalhada dele do que os que os que viviam mais próximos do chão. Outro problema é que ele costumava apanhar coisas pelo caminho até o alto. Não faz muito tempo, havia entregado um pedaço de nuvem para o pai, coisa que ninguém podia explicar.

Joaquim também não tinha sentidos como as outras pessoas. Ele via música, ouvia carinho, sentia o gosto do amarelo (cor, aliás, que achava meio amarga), cheirava coisas ásperas. Odiava ser encostado pelo dó sustenido, mas depois acabou aprendendo a gostar. Percebia que o dó sustenido era roxo, e ele tinha um pouco de medo daquela cor. Com o tempo, porém, Joaquim foi se acostumando e parando de ter medo das coisas (se é que ele entendia as coisas separadamente, coisa de que todos duvidavam). Joaquim era um menino realmente diferente. Ele gostava de enrolodilhar os dedos em seus cabelos louros por causa da melodia. Joaquim falava línguas que ninguém era capaz de compreender.

Então, resolveram mandar Joaquim para diversos médicos, psicólogos e estudiosos. Começaram a conjecturar que o problema do menino era que ele ainda não conseguira diferenciar-se do resto do mundo. Afinal, ele achava que tudo era “nós”. Era tipo assim: se tudo era “nós”, tudo era uma coisa só e uma coisa bem diferente, que é muita coisa ao mesmo tempo, e aí tudo se confundia demais. Joaquim não tinha desenvolvido  na cabeça o “eu”, ao contrário dos outros meninos, para quem tudo era “eu”. E começaram a tratá-lo.

No começo, Joaquim não entendeu. Com muita insistência, deixou de sorrir por alguns minutos pela primeira vez. Não gostava daquilo. Ficou sério. Com muita, muita, mas muita insistência, passou a falar dele mesmo na terceira pessoa: Joaquim gosta de jogar bola, Joaquim come jabuticaba. Pouco a pouco, conseguiram fazê-lo falar o que queriam. Joaquim passou a conjugar verbos, mas sempre na terceira pessoa. E às vezes regredia para a primeira pessoa do plural. Ninguém entendia aquela resistência enorme do menino. Falavam que Joaquim era ele, Joaquim era ele, Joaquim era ele. E Joaquim dizia “ele”, mas eles não aceitavam. Ele ficou ainda mais confuso. Depois, passaram a dizer que Joaquim era eu, que Joaquim era eu, que Joaquim era eu.

Foi realmente uma luta.

Finalmente, um certo dia, Joaquim disse “eu”, e nunca mais conseguiu voar, para alívio de todos os vizinhos, os médicos e as professoras de sua escolinha.
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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Primeira entrada em um diário sem assinatura (e também a única: o diário jamais foi continuado)

Foi o frio talvez que me deu a idéia de começar a escrever tudo o que penso, diariamente se possível. No frio, as coisas ficam sempre mais claras. Este sol a pino acompanhado pelo vento frio desta cidade eternamente aberta ao horizonte, essas formas limpas e monótonas, esta sensação de solidão que o estar encoberto de roupas sempre traz, tudo isto parece me obrigar a escrever algo para que eu possa, quem sabe, entender depois. Porque eu nunca entendi o que escrevo. Passa um dia, passa outro, não consigo entender o que cada um deles quer dizer, nem o que o conjunto de todos significa. É tudo simples ou complicado demais para compreender (porque eu acho que a mente humana acredita tanto na profundidade que não consegue entender o que é banal, porque ela não quer aceitar a banalidade).

Está frio e no frio tomo café.

É preciso contar o meu dia. Bem, vamos recordar o meu dia: acordei, tomei café, pensei besteiras, andei no parque rumo ao trabalho, trabalhei (não aconteceu nada de mais, além de um comentário maldoso sobre alguns colegas, que achei desnecessário), encontrei João e Maria para tomar um vinho e comer algo, voltei para casa, assisti a um filme e agora estou escrevendo esse diário antes de desmaiar de vez na cama. Ah, essa cama já foi dividida e agora não é mais. Os filhos já cresceram, não ligam mais. Esse diário é uma receita para adiar a morte.

Este frio está me fazendo mal. E do nada me ocorre de escrever um diário? E eu sou lá Anne Frank? E estou lá à beira da morte? Eu preciso fugir do frio, é isso. Viver. Tomar decisões como nunca mais escrever.

quinta-feira, 4 de março de 2010

The outsider (fragments)


Once upon a time there was a death of a beloved one.

You come into a restaurant and order thai food inside New York. Everybody speaks English but nobody really speaks English. You listen to 546 different accents every minute including yours. And you think you also have an accent in your mother language and people often ask if you are from a specific state in your country. No, you think, you are from a neighbor state. And now you are ordering food in a nice restaurant to run away from the snowstorm that all TV stations are broadcasting. Really far away from all the tropical beaches you kind of miss. It's like you're not really you. It's like watching somebody else moving, talking, having opinions. Do you really think this? Every language you speak, every continent you go, you're somebody else. You think about your loved one and the loved one is the loved one in that language, not your really loved one as a whole. You are fragmented. You read French philosophers in Spanish just because the bookstore in Chile had it and you were there not in France. You have friends in Facebook from Mozambique that you met in the World Social Forum in Nairobi. When you really think about Paul Auster, you think of him speaking French in Paris but somehow living in the same city you are right now, ordering Italian food with his Norwegian wife on 59th. You remember last night, you barely remember last night drinking too much wine with many friends discussing the reason why we are so unsatisfied being that we all are so privileged. You keep travelling from country to country, from language to language, from different parts of your brain to other different parts of your brain. You are, no doubt about it, doing fine. A bookish fellow, a little distant from your acquaintances. Very shy, perhaps, but indeed good at hiding it. Your face in the mirror of an apartment that never made you feel like home, each day more wrinkled behind the smoke of your cigarette. Still trying to quit, for decades you have been trying to quit. You got used to not telling anyone the things that really matter for you. You convinced yourself that they are not important, not profound enough. Your face behind the smoke of your cigarette have tears sometimes. But not very often. It is because of that short story by Dostoyevsky last night, that sonata you were listening too late at night. Not very often.

There are many different ways of being somebody else in the life. Only one of being yourself, but that changes over time. You are running away. You even forget your name sometimes. You are taking another plane to another place and you like it so much. Time is passing, and you value every second. You know you can forget everything. And after a few years, it is going to be so much easier because you have never had a good memory. Going to meetings everyday, talking to people and reading books at night. Oh, you are still young. You dream of finding someone who will complete you and you know that it doesn't make any sense. You know that Aristophanes was wrong, there is not this so called your other half. And you amuse being with different halves with different parts of your personality. You once met someone who changed your life and you are never going to be like you were before. Those light green eyes are in the back of your head. Still. But not very often. Oh, you love to go to Myanmar and see the beaches and forget that once people used to suffer so much there. Sometimes, when you talk about the life you live, you sound very snob to your audience. And you know it and you know also that you despise your life. But they will never know. It is even worse to complain about a life so privileged. And you know (yes, you know a lot) that it is privileged. The problem sometimes is just you. The world has changed, no worries about climate change, no worries about crisis after crisis. Yes, you stopped reading newspaper and prefer to enjoy the smell of blooming flowers after the rain. You enjoy the moment. No Heidegger anymore, not that old urge about the future. No plans at all. All that is important is here and now. You know how to live, finally after years trying to change. No worries about your psychoanalysis therapy, no worries about who you really are. You get lost in the cities and you love when you are unable to understand what people are saying when you take the metro to a unpronounceable station. You wanted to know the world and you are doing it. Your job is not important. Not even yourself is important. You are now in complete harmony with the surroundings. You like to smile at people and expect them to smile back at you. Sometimes it doesn't happen. But not very often. Sometimes you think of yourself and you remember there are reasons for you to be sad. But, oh, those smiles back at you, they are so spontaneous. So beautiful. Not very often.

You now spend a lot of time crying, listening to music, drinking. You are never alone. People say behind your back that you cannot be left alone, and you are not so stupid not to realize it. Oh, my god, oh my god, oh my god. Where are you. You started praying again. You would never pray after your childhood, and now you talk to god every night and every morning. And you refuse to speak your own language. You do not want to be that person that spoke that language. You are not from anywhere. You are never coming back to the places you went to with her. You do not want to be yourself. Sometimes you think of coming back and starting all over again. But not very often. That part of you must die. And you are killing it, like so many others have done before you. There are real tragedies that need to be forgotten, and you have to kill that part of you which lived the tragedy. Desperation is not wanting to be oneself. It is the impossibility of being oneself. Because you do not understand why such unexpected things can happen to those who had a life so uneventful. Oh, and you used to be so happy, you remember that you could not stop laughing. You even remember one day that you thought you were going to die because you could not stop laughing. You smile sometimes remembering that. You feel so light sometimes. There are good things in life. You are reading self-help books now, so pathetic. You read astrology, Buddhism, all kinds of oriental things, to see the beautiful things that you cannot see very often lately. Where is she? You stop crying sometimes. Not very often.

Você está vivendo o momento mais feliz da sua vida e nunca pensou que pudesse ser tão feliz assim. Ri de qualquer coisa, faz planos de se casar, de conhecer toda a família, de ter filhos e parar com aquela coisa egoísta de preservar sua individualidade. Você quer imergir em outra pessoa e não faz a mínima questão de ser qualquer coisa que não seja para ela. E ela ama você de volta e vocês vão ser felizes para sempre. Não existe nada que possa mudar isso. Você vai finalmente se estabelecer e viver o resto da sua vida com a pessoa que você mais amou na sua vida. Chega de viajar, chega de mudar, chega de procurar. Você agora vai ser só você, da forma mais espontânea e simples do mundo. A felicidade é algo simples e duradouro. Nada realmente pode mudar isso, porque isso vem de você. Você tem convicção de que merece essa felicidade e de que nada pode mudar isso. Existem momentos em que finalmente decidimos como será toda nossa vida futura. Você descobriu esse momento. É maravilhoso. Não acontece quase nunca.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Um dia

Um dia eu acordei e estava cansado da vida e achava que a tinha desperdiçado com coisas que não tinham nada a ver comigo e que eu devia ter sido mais autêntico e menos preocupado com o que os outros pensavam de mim e deixar meus desejos aflorarem e dar mais de mim para os outros seja bom ou ruim e que agora era tarde demais e que eu havia me perdido e agora não conseguia mais saber quem eu era nem o que queria e que era duro não saber quem se é e por isso eu devia ter feito ioga análise e devia ter sido mais saudável e parar de ouvir as pessoas que têm mais traumas e estão mais perdidas do que eu e diziam ser meus amigos e eu pensei que também estava me sentindo na verdade muito sozinho porque eu nunca conseguia ficar à vontade mesmo entre pessoas conhecidas e que no fundo ninguém nunca tinha me conhecido de verdade e que a culpa era minha já que nem mesmo eu sabia quem eu era e que isso era uma forma de egoísmo e sim era egoísmo e eu era egoísta e por isso me sentia sozinho mas que agora ia ser tudo diferente e eu ia parar de me sentir assim e ia me dar mais para as pessoas e ia parar de me preocupar com o que as outras pessoas pensavam de mim e que eu ainda tinha muito da vida para aproveitar e que só tinha desperdiçado uma pequena parte porque eu era jovem eu era jovem e ainda podia fazer muita coisa e tudo estava bem e eu tinha uma vida tranqüila com emprego casa roupa lavada filmes livros e muita música e amigos de verdade e podia pagar análise ioga academia e que eu ia ser uma pessoa diferente já que eu tinha tomado consciência eu podia ser uma pessoa diferente e todas as coisas do meu apartamento começaram a dançar e a escova de dente cantava músicas felizes com o acompanhamento das latas de lixo das xícaras e copos do lustre do móbile e o vento começou a soprar mais forte tudo dentro do meu apartamento mas aí comecei a pensar que as pessoas não mudam assim tão facilmente só acordando um dia deprimidas e depois ficando felizes em uma hora e que na verdade eu podia acabar repetindo tudo de novo do mesmo jeito que eu tinha feito até então e que eu ia acabar sendo sempre isso sempre isso sempre isso mas aí pensei de novo e lembrei-me que a consciência era o começo da mudança de tudo e que agora eu podia sim sair pra rua e dançar e que os dias ensolarados iriam finalmente acontecer e logo eu abri a porta do meu apartamento e saí todo ensolarado e sorridente para a rua e vi as crianças brincando e os pais felizes nos parques das pessoas saudáveis e aquilo tudo me contagiou de uma forma tão completa que eu pensava que sim que eu iria mudar e que a felicidade estava na esquina e que agora eu só precisava de um cigarro para aproveitar o momento e de preferência uma cervejinha só para conversar com meus amigos de verdade e peguei o rumo do bar mas aí pensei que não era bem assim que eu estava me perdendo de novo e que eu era uma nova pessoa e voltei e quando eu estava chegando ao parque das pessoas felizes começou a chover e eu voltei para o meu apartamento silencioso e ao som da água caindo lá fora resolvi dormir de novo.