Estou
tentando correr o máximo que posso. Sei que, se parar, alguma coisa muito ruim
vai acontecer. Algo horrível. Estou me cansando, no entanto acelero cada vez
mais. Alguém está atrás de mim. Eu o vejo sem necessidade de olhar para trás. Está
perto. Cada vez mais perto. Tem a cara contorcida. Parece furioso. Parece a
personificação da maldade. O que eu fiz? Certamente fiz algo. Meu deus, ele não
pode me alcançar. Por favor, não o deixe me alcançar. Não posso me exaurir. Eu
corro, corro, corro. Corro por uma rua que não conheço. Tenho medo de acabar
num beco sem saída. Se aparecer um muro, um obstáculo qualquer, o que irá
acontecer? Prefiro não saber. Melhor não pensar nisso. Ele, por outro lado, não
parece cansar-se nunca. Ele anda e aparenta estar à mesma velocidade que eu,
que estou no limite de minhas forças. Espere. Acho que há outros. Eu sei, sem
espaço para dúvidas, que fiz algo hediondo. Por isso preciso continuar. Para
que não me punam. Por que eu fui ser tão negligente? Serei objeto da vingança mais
abjeta. Começo a me debater. Sei que padecerei dores pavorosas. Por que não
consigo me lembrar do que ocorreu antes? Meus pés vacilam. Estou com medo. Não
vejo saída alguma.
Escuridão.
Estou
escalando uma montanha. Ao meu redor, enxergo inúmeros cumes altíssimos, todos
encobertos de neve. Um senhor me diz, numa língua que compreeendo - embora
nunca a tenha escutado antes - que estamos quase chegando. Faz muito frio.
Sinto a lufada de um vento cortante.
Estamos, os dois, completamente agasalhados, salvo por parte do rosto, que
assume um aspecto vermelho ardente. Descubro, sem a necessidade de qualquer
espelho, que estou velho. O (outro) velho recorda que seremos os primeiros
homens a chegar ao cume daquele monte. Estou na cordilheira de um país de nome
impronunciável, cuja língua falo fluentemente. Apesar de não me lembrar, estou
consciente de que estamos subindo gradualmente há várias semanas. Para evitar
eventuais contratempos e garantir nossa sobrevivência em caso de emergência, estamos
racionando água e comida. Nossas forças não chegam a uma fração do que tínhamos
no início, após muito tempo de preparação. Então, como recompensa por todos os
esforços, vejo que falta pouco. Nos elevamos um pouco mais, com a ajuda de
cordas. Damos poucos passos e, finalmente, chegamos. Porém, ocorre algo
inesperado, ao menos para mim. No topo daquela montanha, para minha surpresa, estão
todos os meus amigos. Eles anunciam que estavam nos esperando há muito tempo,
para comemorar aquela grande vitória. Afinal, sua vida de explorador do mundo
adquiria um novo status, e ninguém poderia deixar-me sozinho em momento tão
importante. Estão todos muito contentes. Diferente de mim, eles têm a mesma
idade de sempre. Trouxeram bolo, bebidas, petiscos. Acho que é meu aniversário.
Dão início à festa. Todos conversam com entusiasmo. Olho ao meu redor: a vista
é maravilhosa.
Escuridão.
Ah,
eu me lembro dela. Não me recordo, talvez, do início de tudo. Lembro-me,
contudo, do rosto dela. Ela exibia um sorriso constante. Tinha o rosto gracioso.
Parecia contente por algo que eu havia feito. Eu estava apaixonado. Era óbvio
que ela também estava bastante apaixonada. Ela sorria agora bem perto de mim.
Seus olhos sorriam, entrecerrados. O rosto todo dela, e o corpo, sorriam.
Havíamos tido um passado feliz. Estávamos em um quarto. Talvez o meu, talvez o
dela. Nesse quarto, isto era o mais importante, nos sentíamos em casa. Estávamos
sentados na cama. A luz era cálida e esbatida. Havia alguns livros numa estante
ao lado que eu conhecia, mas que não eram meus. Ou talvez fossem. Nós dois
havíamos lido aquelas histórias, isto era certo. Escutávamos nossas músicas
preferidas. Ah, eu me lembro. Era como se fosse agora. Ela me contava histórias
divertidas do seu passado. Era uma pessoa boa. Eu podia sentir que ela era uma
pessoa boa. Eu só havia desejado isto a vida toda: uma pessoa boa. E ela era. Tão
simples. Embora fosse extraordinariamente interessante, exalava uma humildade
única. Subitamente, eu desatava a chorar. Chorava com a história engraçada. Embora
fosse paradoxal, ela imediatamente compreende. Eu estava feliz. Estou. Ela me
deita, para que eu me acalme e pare de chorar. Pare de chorar. Você está feliz.
Sim, eu estou. Você sabe. Eu sei. Deita. Obrigado. Por tudo. Ela passa a mão no
meu cabelo. Seca minha pele úmida com um beijo. Em seguida, ela se deita comigo.
Abro novamente meus olhos, e revejo seus olhos: abertos, atentos. Eu só via os
seus grandes olhos. Ela, então, encosta-se completamente em mim. Seu corpo inteiro em mim. Descubro que
estou sem roupa. Ela, igual, nua. Sinto somente, mais nada sinto além disso:
sua pele inteira encostada no meu corpo. Esfregando-se em mim. Uma sensação boa.
Ela fricciona sua pele à minha. Meu corpo inteiro estremece. Ela se aperta cada
vez mais forte contra mim. Ah, eu me lembro. Eu me recordo como era dentro
dela. Me lembro de nós dois colados. Aquela sensação causada pelo suor entre as
epidermes. Meu corpo inteiro tenso. Tudo molhado de lágrimas e de suor. O
quarto inteiro. Está chovendo dentro do quarto. Meia-luz. Ela se estremece. Ela
continua. Nós estamos maravilhosamente encharcados. Dois minutos. Três minutos.
Cinco dias. Não para. Não cessa. Seus olhos olham diretamente os meus. Tão
perto. Eu sinto algo. Sinto que algo vai acontecer. Um sensação boa. Tento me
controlar, mas é muito forte. Algo está acontecendo. Não vou conseguir segurar.
Explodo. Seus olhos eram malícia em estado puro. Eu desmaio.
Escuridão.
Suspeito
que aquele cômodo ficava na casa de minha avó na minha infância. Abro a porta e
dou de cara com o corredor daquela velha casa em que meus pais me deixavam durante
as férias. Saio procurando o pomar no quintal do fundo do lote. Fico com medo
de passar mal por comer tantas goiabas, como havia feito em férias imemoriais.
Minha avó reitera que eu não posso comer tantas goiabas. Ela me avisa vai fazer
aquele biscoito de que gosto tanto. Guarde-se para os biscoitos, ela diz.
Parece que ela, aquela garota daquele quarto úmido, não existe mais. Embora eu
guarde ainda o gosto dela. Ou, talvez, ela ainda não existisse. Mas eu a
procuro. Passo o dia procurando o meu futuro dentro de meu passado. Sinto que
não adianta perguntar por ela. Ninguém entenderia. Subitamente, porém, naquela
rua quente daquela pequena cidade do interior do país, eu a revejo (embora, de
certo ponto de vista, eu estava vendo-a pela primeira vez). É uma criança, mas
seus olhos a denunciam. Percebo que ela ainda não me conhece. Eu vou atrás
dela. A mãe dela me vê e diz-lhe que eu quero brincar com ela. Ela brinca
comigo. Nós aproveitamos grande parte da tarde, naquela idade em que uma tarde
é quase uma eternidade. Em algum momento, todas as crianças que antes não
estavam lá subitamente aparecem e formam uma roda para ver um menino que caiu e
machucou o joelho no asfalto. Ela está bem à minha frente. Sem dar por mim,
acaricio as costas dela. Ela vira, admirada, para mim. Eu faço um esforço para
explicar que fiz aquilo sem querer, mas não consigo pronunciar uma palavra.
Apenas a miro, boquiaberto, muito mais perplexo do que ela com minha atitude. Ela
sorri e me beija no rosto. Eu começo a flutuar. Você me segura e me coloca de
volta no chão. Ninguém percebe. Imediatamente, todos voltam a brincar. O menino
com sangue no joelho se levanta. Fico olhando a marca vermelha no asfalto. De
repente, meu pai, que estava de férias numa praia muito distante, inexplicavelmente
aparece na minha frente e diz que é hora de voltar para a casa da minha avó.
Ela – a garota do futuro - nem olha para trás enquanto eu me afasto. Digo a meu
pai que vou me casar com ela. Ele gargalha. Admito que ele não pode não
entender que eu a conheço de antes, do futuro. Porém, ele devia ter consciência
disto. Ele é adulto. Ele devia saber de tudo. Minha avó havia preparado
biscoitos muito saborosos. Minha avó faz muitas coisas gostosas. Fazia tempo
que não comia aqueles biscoitos. Minha avó não sabe que está morta. Foi bom ver
minha avó de novo.
Escuridão.
Tenho
medo de morrer sozinho, caminhando por esta rua escura. Não há ninguém. Sinto
que posso morrer. Sinto uma solidão enorme. Desconfio que não existe mais
ninguém. Eu ando sozinho por uma rua que não acaba. Passo por quadras e mais
quadras desoladas, edifícios muito altos e depredados, escolas abandonadas,
hospitais vazios, jardins murchos. Somente alguns postes iluminam os espaços.
Estou procurando alguém. Não sei precisar se alguém específico, ou se só um
alguém qualquer. Acho que me sinto solitário nesta cidade arruinada. Seria bom
encontrar alguém e perguntar porque não há mais ninguém. No entanto, ninguém
aparece. Eu sigo caminhando.
Escuridão.
Surjo
no meio de uma festa. O local está abarrotado de gente. Pessoas empurrando por
todos os lados. Não sei com quem eu fui a esta festa. De repente, ela aparece.
Acho que é a mesma garota molhada da chuva do quarto. Porém, com um aspecto
físico diferente. No entanto, por alguns pequenos sinais perceptíveis somente
para mim, concluo que é definitivamente a mesma garota. Tem outro corpo. Deduzo
que estamos juntos há bastante tempo. Tenho a impressão de que moramos no mesmo
apartamento. Ela decide sair do meio do turbilhão e me conduz a um lugar mais
vazio. Acho que não estou apto a dizer nada porque a música está muito alta. Ela
me conta que precisa conversar comigo. Eu não consigo pronunciar palavra. Eu
não me sinto, não consigo me ver. Só ela existe ali. Não há mais ninguém na
festa, a não ser uma pessoa, que nos observa à distância. Ela então me diz à
queima-roupa que está ficando com aquele sujeito mais à frente. Que decidiu
ficar com ele e separar-se definitivamente de mim. Que eu tenho que entender.
Que está apaixonada por ele. Que ela não me ama. Talvez nunca tenha me amado. Ela
diz que já não volta mais para casa. Ele a chama. Ela vai até lá. Ele diz-lhe
algo ao pé do ouvido, e aproveita a ocasião para beijar-lhe levemente o lóbulo.
Então, os dois se beijam na boca apaixonadamente. Na minha frente. À
queima-roupa. Ela sussurra algo no ouvido dele. Depois, volta e me aconselha a
ir embora para não ser ainda mais humilhado. Que ela vai ficar com ele na festa.
Eu tenho vontade de lhe perguntar porque ela está fazendo isto comigo. Mas não
consigo dizer nada. Ela vai embora. Ela o beija de novo. Nota que eu ainda
estou por lá. Me dirige um olhar de desprezo. Ri com escárnio. Eu não sei para
onde ir. Nem sei dizer exatamente onde moro. De repente, a festa está cheia de
novo. Ela me encara pela última vez e o
beija de novo, nitidamente para que eu testemunhe aquilo, depois morre de rir
de algo (de mim?) e some no meio da multidão.
Escuridão.
Desperto-me
sobressaltado por uma série de visões bizarras que tive durante o sono. Decido
contar a todos aquele sonho. Depois de escutarem atentamente, conhecidos meus explicam
que minha narrativa não reflete exatamente o que sonhei. Eu tento argumentar
que estou certo de que foi exatamente daquela maneira. Eles retrucam que, muito
simplesmente, eu não havia entendido e que eu não me lembrava de algumas
partes. Todos haviam assistido ao sonho e concordam que minha história não era
fiel. Disseram que uma parte era formada por referências a uma infância que eu
nunca havia vivido. Meu psicanalista expõe que está de acordo com todos eles. Sinto
uma grande frustração. Todo mundo havia entendido meu sonho melhor do que eu.
Vencido, sou obrigado a concordar. Embora aquela anuência implicasse admitir que
o sonho não era exatamente do modo como eu rememorava. Mas todos estão tão seguros.
Sinto que sempre compreendo menos do que deveria. Mas está tudo bem, dizem. Todos
sorriem complacentemente. Não consigo entender. Contudo, fico contente por me esclarecerem
exatamente o que eu sonhei. Eu não me recordo direito dos sonhos. Todos se
lembram dos meus sonhos, menos eu.
Escuridão.
Estou
caminhando pela calçada de uma nova rua. Uma garota desconhecida começa a puxar
assunto a meu lado. Continuamos vagando pela cidade. Seguimos assim por alguns quarteirões.
Depois de algum tempo, chegamos à porta do que suponho ser minha casa. Convido-a
a entrar. Ela aceita. Entramos. A claridade do exterior é substituída por uma
luz muito fraca. Depois de passar por alguns cômodos insuficientemente
iluminados, descubro uma mulher reclinada no sofá da sala de televisão. Está
usando aquela típica roupa usada que geralmente se usa dentro de casa. A mulher
levanta-se. Dirige-se à visitante, apresenta-se e a recebe carinhosamente. Em
seguida, me abraça e me dá um beijo. A característica mais marcante da moça do
sofá é sua leveza, em todos os aspectos. Relembro-me do dia anterior, em que eu
a tinha carregado com insólita facilidade pela casa inteira. Ela, por sua vez,
toda enroscada em mim. Como
estava antes retorcida no sofá, com sua roupa confortável, no momento em que eu
havia chegado naquela (minha) casa. Ela gostava que eu a levasse para todo
lugar, para ficar constantemente apoiada em mim. Parecia que ela até
mesmo costumava dormir em meus braços durante essas perambulações. Após um
tempo, ela tira um bebê de um berço onde ele dormia. Era uma menina de cerca de
seis meses. Ela mostra sua filha à visitante. Enquanto isso, eu me deito no
sofá, exatamente no mesmo lugar em que ela estava antes. Aquela área exalava o olor
do perfume dela. Depois que a visitante a acaricia desajeitadamente, a mãe
deita a menininha de bruços em cima de minha barriga, sobre a qual ela se
aconchega ainda melhor do que no berço. Não sei se ela era minha filha. Mas
sinto que pode ser ou que aquilo não é importante. Ela dorme silenciosamente
sobre minha barriga. Parece que sou feliz. Não sei que fim leva a visitante.
Sinto só uma harmonia enorme. Me sinto parte de uma espécie de sentimento
comum.
Escuridão.
Acordo
e procuro freneticamente o despertador. Levo um tempo para fazer as contas e
compreender que não estou atrasado. Me levanto da cama e me dirijo ao banheiro.
Enquanto escovo os dentes, pressinto que algo que está errado. Volto para
verificar o relógio uma vez mais. Passaram-se várias horas. Como? Talvez eu não
houvesse conferido o despertador direito da primeira vez. Termino de escovar os
dentes e confiro novamente o mostrador do alarme. Realmente, havia perdido o
horário. Saio de casa desesperado, em direção ao lugar onde estão sendo
realizadas as provas que eu não poderia de maneira alguma perder. Uma vez lá, me
explicam que eu também havia perdido os exames do dia anterior. Então, eu havia
dormido dois dias? Infelizmente, parecia ser o caso. Agora, eu haveria de
esperar o próximo ano e tentar de novo. A funcionária, desconcertada, tampouco
pode compreender como eu poderia haver dormido por dois dias e sequer me dado
conta do acontecido. Volto para casa desolado, ainda sem poder explicar aquelas
circunstâncias.
Escuridão.
É
de conhecimento universal que existe um botão vermelho que aciona o fim do mundo.
Não estão muito claras as razões pelas quais ele foi concebido e (algo ainda
mais misterioso) rigorosamente construído. Após certas deliberações, acordou-se
que ele estaria a cargo de um órgão similar ao Conselho de Segurança das Nações
Unidas. Tenho plena consciência deste fato quando sou abordado na rua por certo
conhecido, que empunha um jornal e, aos brados, afirma que divergências entre
os representantes daquele órgão poderiam levar a que alguém o acionasse. Nem
dou ouvidos a tamanho absurdo. Não fazia sentido que uma organização
internacional iniciasse o funcionamento de um mecanismo que levasse à nossa
completa aniquilação. Contudo, alguns dias depois, novamente caminhando pela
rua, avisto algumas manchetes em diversos jornais anunciando que o botão havia
sido pressionado, por diferenças irreconciliáveis entre os diversos membros da
comissão do fim do mundo. As ruas, apesar de tudo, continuavam apresentando seu
aspecto cotidiano. Ninguém parecia estar especialmente nervoso. Eu compro o
jornal com o revisteiro e procuro confirmar com ele se era verdade o que estava
noticiado. Ele assente. Complementa depois que todos os jornais da televisão já
haviam antecipado a notícia na noite anterior. Sua voz anuncia sua própria
morte com grande tranquilidade. Não sei com quem conversar. Tudo segue seu
curso, menos o meu coração. Não encontro ninguém conhecido. Sinto-me
absolutamente perdido na rua durante o início do fim do mundo.
Escuridão.
Volto
a ser perseguido. Continuo tentando correr. Não assimilo como posso correr
tanto sem conseguir afastar-me de meu carrasco. Olho para ele e tento
lembrar-me de onde o vi antes. Talvez seja aquela pessoa da festa. Ou talvez
algum antigo amigo. Acho que aquela garota tem algo a ver com isso. Devo ter
feito algo que a chateou. Eu já tinha visto que ela tinha pendor à vingança. Ou
talvez seja o oposto. Talvez ele esteja furioso por ela estar comigo. Talvez
ele fosse amante dela. Talvez ainda seja. Talvez eu seja o amante dela. E ele,
o marido. Talvez eu a tenha roubado dele. Talvez ele não goste que eu siga
existindo. Sinto que fiz algo muito errado do qual ele anseia se vingar. No
meio da corrida, começo a sentir minhas pernas dormentes. Também o chão parece
estar cada vez mais pegajoso. Dou passos cada vez mais curtos e mais lentos. Se
seguir assim, ele vai me alcançar. Começo a fazer um esforço descomunal para
correr, mas não consigo. Aparentemente, também vou chegando ao fim do caminho.
Parece haver um penhasco poucos metros à frente. Pouco a pouco, algo
irresistível me impede de seguir. Não consigo mais dar um passo. O homem
furioso e seus companheiros se aproximam. Eu estou afundando na terra. Quando
tudo indica que eu vá, na melhor das hipóteses, morrer com dores insuportáveis,
quando estou no auge do despero, quando meu coração martela no peito enquanto
vejo meus algozes se aproximando, quando estou suando aos borbotões e meus pés
continuam anestesiados e afundando na terra, exatamente aí neste momento,
enfim, tudo subitamente desaparece e aquele mundo é imediatamente substituído
por outro.
Luz.
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