quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Manhã

O homem acorda às sete horas da manhã e dirige-se ao banheiro para tomar uma ducha. A mulher dorme na cama por mais 20 minutos, quando finalmente decide pegar suas roupas em seu quarto, na próxima porta. Uma decisão acertada, quartos separados, suas coisas sempre previsivelmente nos lugares adequados. O homem sai do banheiro, cheiro de sabonete com loção pós-barba, refletindo, novamente em seu quarto, sobre a gravata que seus colegas de trabalho verão pendida sobre sua camisa branca. A mulher sai do banheiro já vestida, abre a porta para deixar sair o vapor e começa a maquiar-se, preocupada com o fim próximo do batom de que mais gosta, preocupada sobre a possibilidade de usar a sandália mais bonita num dia provavelmente chuvoso, preocupada com os prazos e as entregas do dia. O homem olha o dia cinza através da janela enquanto seu café esquenta no fogão. Ele pega o corredor em direção à sala para fumar um cigarro na mesa de centro. Ouve passos do casal de vizinhos saindo para levar seus filhos correndo para suas escolas, para depois seguirem para o trabalho. Eles não têm filhos, não sabem mais se querem  ter. A mulher entra na cozinha, pega a salada de frutas e duas torradas, tira uma xícara de café do bule que esfria. O homem pega suas chaves penduradas no corredor, avista a mulher na cozinha e diz “tchau” e desce pelo elevador. A mulher termina de comer suas torradas, calça suas sandálias, desce os dois lances de escada que a separam da garagem, entra no carro e vai para seu escritório. Havia uma chuva monótona caindo sobre o pára-brisa dos dois carros, que seguiam por avenidas paralelas.