segunda-feira, 2 de junho de 2008

Dúvidas

Se uma pessoa está em constante mudança, ela nunca é o que era antes. Logo, numa perspectiva temporal, não existe uma pessoa, mas várias pessoas, com corpo e alma diversos.
Nós nunca conhecemos totalmente alguém, nem mesmo a nós próprios. Portanto, há sempre espaço para o imprevisível. E, se estamos em constante mudança, como parece ser nosso caso, é ainda mais difícil e problemático dizer “eu conheço aquela pessoa” ou até “eu realmente me conheço”.
Apesar das afirmações anteriores, o amor existe. Nós dizemos, constantemente, “eu amo aquela pessoa”. Porém, se nós jamais conhecemos alguém, e se este alguém é sempre outro no tempo, a quem realmente amamos?
Tem gente que ama alguém querendo que ela realize um potencial imaginário, criado pelo amante (“amo porque sei que ele pode ser outra pessoa”). Tem gente que ama porque acha que o amado vai fazê-lo realizar o seu potencial imaginário. Tem gente que cria um sujeito imaginário e o ama. Em geral, a gente faz os dois, simultaneamente.
Mas o amor também muda com o tempo. Ele toma formas diferentes, ele tem graus variados. Ele aumenta, diminui, acaba. Essa variação tem alguma relação com a mudança individual dos amantes-amados? Podemos dizer que paramos de amar porque o amado mudou? Como, se nunca o conhecemos realmente, nem agora nem antes? Será que o amor acaba porque nossa capacidade de vestir o ser amado com a roupa que nos agrada, ou com as diversas roupas que podemos amar, esvai-se? O amor muda porque amante e amado mudam?
Mas o amor também tem contato com a realidade. O amante entende e percebe algo do ser amado: é quando dizemos “compreendo-o” (parcial e episodicamente, ao menos). É quando não mais porque pensávamos “que ela fosse diferente”. O amor tem fantasia vista como realidade. O ser amado tenta mudar para corresponder à fantasia do amante. Por isso, o amor também é, por sua vez, motor de mudança dos amantes-amados. Nós tentamos, ainda, ocultar o que pode não corresponder a estas criações imaginárias. Também podemos ver que os amantes mudam um ao outro, fazendo que com ambos fiquem bem parecidos a olhos de terceiros e deles mesmos.
Se o amor muda, de onde vem a estabilidade do amor? O amor é independente dos sujeitos-objetos do amor? E seu contato com a realidade, como fica? Como o amor dura se tudo muda, inclusive nós próprios?
Cá estão, nossos amigos de longa data. Anos, décadas. Nosso amor romântico pela mesma pessoa, amor longínquo. A gangorra eterna do amor.
Como funciona o amor? Ele pode explodir, como partículas instáveis numa molécula, como bomba atômica? De onde vem toda essa energia, de onde veio o amor? Como se mantém? Para onde ele vai?
O que é isso que chamados de amor?