A criança, deitada no colo da
mãe, respirava e sentia a respiração da mãe. Sob o efeito de um anseio profundo
de comunhão, uma vez tendo consciência da respiração de sua mãe, procurava
sincronizar a sua à dela.
A criança não conseguia fazê-lo perfeitamente. Segurava o fôlego, mal inspirava, soltava o ar longamente depois, ofegava, ficava sem ar. Apesar da dificuldade, não podia mais respirar livremente. Tinha de respirar com a mãe, no mesmo ritmo, na mesma cadência. Quando conseguia, sentia-se mais ligado a ela. Desconfiava que algo profundo os unia.
A criança, já adulta, não se liberta desta necessidade de comunhão profunda com a pessoa amada. Deitado na cama com a mulher, no silêncio profundo da noite e dos corpos exaustos, ele procura sincronizar, lentamente, sua respiração à dela. Ainda tem a mesma dificuldade: segura o fôlego, mal inspira, solta o ar longamente, ofega, fica sem ar. Todavia, sentia aquele antigo alento quando conseguia, finalmente, sincronizar sua respiração à dela.
A mesma ânsia, a mesma necessidade. A falta de
liberdade ligada à consciência de que realmente não é livre, de que não
consegue viver, de que não pode respirar longe dela.
2 comentários:
Sempre escrevendo bem. E bonito.
passei por aqui querido,
beijos
fabiana
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