segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Coesão

Cada vez menos acredito em palavras. Palavras são ditas ao vento. Ainda mais declarações de sentimentos. Entre atos e palavras, eu fico com os atos. Eu acredito em atos. Muitas palavras não passam de palavras vãs.

Com o aumento do número de pessoas morando sozinhas e o preço dos aluguéis aumentando indefinidamente, o tamanho médio das habitações torna-se cada vez menor. Vai chegar um dia em que todos os espaços serão feitos para conter uma única pessoa, o que impedirá a socialização em ambiente doméstico. Nesse dia, todos nós enviaremos e-mails diários uns aos outros e chamaremos isso de amizade.

As pessoas sempre ouvem seu nome quando, na verdade, outra coisa foi dita. Penso que, no caso dos falantes de português, é a vogal tônica que as pessoas mais ouvem quando são chamadas. No meu caso, sempre acho que estou sendo chamado quando clamam “meu deus”. Isso deve ser um sinal muito grave de egocentrismo e ilusão de poder.

Hoje eu estou de mal de mim.

2 comentários:

Gigi disse...

ugh! Odeio quando meus comentários desaparecem! ugh!
Cada vez menos acredito em palavras [2]!

Egocentrismo e ilusão de poder não poderia ter sido melhor!!

Unknown disse...

Engraçado isso que você escreveu sobre as palavras. Hoje mesmo, lendo o Rancière, encontro essa passagem: "la trahison qui est au coeur da la lettre d'amour la plus sincère: la trahison qui consiste simplement en ceci que, derrière les mots, il n'y a jamais que des mots". É esta ausência de um corpo definido (ou de atos, para falar com você) por trás da palavras o que faz com que elas circulem livremente, que possam se encarnar em qualquer corpo, corresponder a qualquer amor, fazer com que haja história. Mais informações cf. RANCIÈRE, Jacques. Les noms de l'histoire. Hihihi! Beijo!