Não vou negar o amor que tenho (tive). Pois negar o amor que tenho (tive) seria negar a própria vida. Eu nunca iria negar a mim mesmo, mas numa tristeza profunda em que mergulhei, perdi os sentidos, a respiração tornou-se difícil, a visão nas águas turvas, limitada, e meus demais sentidos ficaram embotados. No jazigo (cama) em que estava, havia só escuridão, e as lágrimas dificultavam mesmo a visão do breu em que eu nunca soube estar.
Numa idealização profunda da outra, que ainda mantenho (sumiu), foi difícil entrever o que havia (há) de humano em nós. Mas o amor, ele nos mudou, e nos abraçou, a nós, que pensávamos abraçar somente um ao outro. E era esse nosso amor ao nosso amor que nos fez ver uma vida diversa, que imaginávamos jamais possível. E foi nessa aventura que eu, afinal, me tornei algo que jamais pensara ser. Por causa de você, das fantasias que você me vestiu, e que eu tanto procurei merecê-las. Algumas daquelas fantasias ficaram. Outras, muitas outras, não couberam no limitado demasiado humano que eu era (sou).
No momento em que nos descobrimos nus, nus para além do momento do êxtase e dos nossos corpos mesclados e cansados, era como se o mundo inteiro estivesse apontando aquela frágil exposta nudez. Nossas fantasias foram sub-repticiamente retiradas num momento em que eu não esperava. E foi então que as lágrimas dificultaram mesmo a visão do breu em que eu nunca soubera estar.
Mas a você agradeço, por ter recebido e me dado tanto amor. Um amor que moveu mais a vida do que quaisquer outros sentimentos que passaram por mim nesses tantos anos. Eu agradeço a você por me dar o que eu sou e o mundo que tenho. E agradeço a você, também, porque, ainda (não mais) te amando, quero ainda vestir as mais inefáveis fantasias que experimentei até pouco antes de você ir-se para sempre.
Não vou negar o amor que tenho (tive). Pois negar o amor que tenho (tive) por você, seria negar que eu sou eu. Eu é você. E o que há de mudança em mim, inclusive nos meus tantos esforços para mudar o meu jeito de amar de ver de sentir, é ainda vestígio do amor que permaneceu (acabou) e que lhe busca nos mais longínquos espaços, longe dos meus olhos e da minha idéia, mas jamais longe do coração. E é isso que me resta (restou).
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