Foi o frio talvez que me deu a idéia de começar a escrever tudo o que penso, diariamente se possível. No frio, as coisas ficam sempre mais claras. Este sol a pino acompanhado pelo vento frio desta cidade eternamente aberta ao horizonte, essas formas limpas e monótonas, esta sensação de solidão que o estar encoberto de roupas sempre traz, tudo isto parece me obrigar a escrever algo para que eu possa, quem sabe, entender depois. Porque eu nunca entendi o que escrevo. Passa um dia, passa outro, não consigo entender o que cada um deles quer dizer, nem o que o conjunto de todos significa. É tudo simples ou complicado demais para compreender (porque eu acho que a mente humana acredita tanto na profundidade que não consegue entender o que é banal, porque ela não quer aceitar a banalidade).
Está frio e no frio tomo café.
É preciso contar o meu dia. Bem, vamos recordar o meu dia: acordei, tomei café, pensei besteiras, andei no parque rumo ao trabalho, trabalhei (não aconteceu nada de mais, além de um comentário maldoso sobre alguns colegas, que achei desnecessário), encontrei João e Maria para tomar um vinho e comer algo, voltei para casa, assisti a um filme e agora estou escrevendo esse diário antes de desmaiar de vez na cama. Ah, essa cama já foi dividida e agora não é mais. Os filhos já cresceram, não ligam mais. Esse diário é uma receita para adiar a morte.
Este frio está me fazendo mal. E do nada me ocorre de escrever um diário? E eu sou lá Anne Frank? E estou lá à beira da morte? Eu preciso fugir do frio, é isso. Viver. Tomar decisões como nunca mais escrever.
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