No avião para Bangkok, depois de comprar um guia em Frankfurt, começo a ler e, finalmente, passo a saber algo sobre o país para onde estou indo. Estou ao lado de um casal de alemães (mais tarde, fico sabendo que os alemães são os europeus que mais vêm a Bali) bastante simpático. Não falam quase nada de inglês mas sorriem o tempo todo, consomem grande parte do arsenal de bebidas que a Thai Airways fornece e brindam quase sempre; parecem em lua-de-mel, mas seus filhos na fileira de trás e sua idade denunciam que já estão juntos há muitos anos.
Desço em Bangkok, pego o avião para Bali. Começo a pensar, entre turistas malaios e australianos, nos bombardeios de 2002 e 2005. Incrível o número de pessoas indo à ilha, sabendo que foram o alvo dos ataques terroristas: o objetivo. História colonial típica: companhias comerciais, seguidas pelo próprio governo holandês, antes dos japoneses e, finalmente, a volta dos holandeses, que não iriam largar o osso tão facilmente. Esta foi a integração dos países “não-ocidentais” (o que inclui América Latina e África) à sociedade internacional. Porém, no presente eterno em que vivemos, não há espaço mais para discutir estas coisas. A independência, a influência dos comunistas e a Guerra Fria, os anos sob Sukarno, logo os anos sob Suharto, a influência dos militares na política durante longo período, e o “bem-vindo” período democrático. Megawati, islamismo, hinduísmo, sendo o ex-general Susilo o atual presidente.
É o outro lado do mundo. Chego às 14h, horário local, 3h da manhã no Brasil. Entre conexões e horas de vôo, cerca de 30 horas de viagem. Chego no hotel, pensando em cochilar, e durmo por 8 horas, não sei se por causa do cansaço da viagem ou porque eu estaria dormindo no Brasil, embora aqui fosse o meio da tarde. É o outro lado do mundo.
E, ainda assim, é outro mundo. Come-se nodles (come-se nodles em todas as refeições) e batatas no café-da-manhã, tofu, carnes
O trânsito é um capítulo a parte. Há mais motos e mototáxis do que a média brasileira. Detalhe: metade deles sem capacete. Outro detalhe: crianças dirigem grande parte das motos. Crianças são colocadas em motos com os pais e, se algum deles está sem capacete, são sempre os filhos. Em Bali é comum ver cigarros de Bali, que me fizeram começar a fumar, e ainda não há a perseguição ao tabaco que se costuma perceber na maioria dos países “ocidentais”: pode-se fumar em praticamente todo lugar. O trânsito é caótico, eu não teria a mínima condição de dirigir por aqui, por mais imprudente que alguns me considerem. Dirige-se do lado esquerdo, como os ingleses, e a buzina é onipresente. Dentro de um táxi, observo o motorista utilizando a buzina de 15 em 15 segundos, e não consigo compreender para quê, para quem está buzinando. Parece um hábito, algo mecânico, embora eu saiba que é algo que me escapa. E qualquer pessoa pode entrar no meio da rua e parar o trânsito, sem grandes reclamações dos motoristas. É o que fazem os funcionários dos hotéis, para chamar táxis ou permitir a saída de algum veículo, ou até mesmo para permitir que os turistas consigam atravessar a rua. Aliás, as ruas são muito estreitas e as calçadas, mais ainda.
Grande parte da minha vida social com os nativos ocorreu dentro de carros, em conversas com os motoristas e guias. O sotaque em inglês é muito diferente daqueles aos quais eu tinha me habituado, e é comum eu pedir para que repitam a frase para que eu consiga entender. Todos trabalham muito (é impressionante o número de estabelecimentos que ficam abertos até tarde da noite, senão 24h) e, não obstante, parecem sempre estar de bom humor. São orientais de pele morena, e tendem a ser mais baixos do que eu. Outro susto: ao tirar foto para minha credencial, a funcionária da conferência, ao ver que teria que ajeitar a câmera, disse-me, com um ar sério, que eu era “alto demais”. Eu quase agradeci o elogio!
4 comentários:
Muito bom!
Confesso que entendi perfeitamente o caos do trânsito quando você disse que não teria condições de dirigir por aí! Hehehe! Brincadeirinha! Mas você deu a deixa, né!?
Não me lembrava desses ataques terroristas. A associação mais catastrófica que me vem sempre é a das tsunamis. Bali também foi atingida, não?
Beijo!
Quando se fala na Indonésia, lembra-se (ao menos no Brasil, penso) das tsunamis, dos ataques terroristas (dois em Bali, outros em Java) e do massacre no processo de independência do Timor Leste. As notícias não são boas. Não as que ficaram...
Matheus, estou repassando para um amigo nosso, Rener, do grupo da Vânia Daura, o seu texto referente às primeiras impressões da viagem à Indonésia, para eventual publicação. Espero que não se importe se vier a ser publicado na imprensa (tablóide) local, de circulação algo restrita, qujem sabe com uma foto sua. Vou repassar também uma notícia sobre a minha posse e talvez uma foto da solenidade, conforme pedido do Rener, que está elaborando o jornal em parceria (pelo menos a página) com o Jorge Braga, conhecido chargista goiano, já abençoadopelo Zirado e conhecido nacionalmente pelas suas charges. Gostei muito dos seus textos. Na verdade, fiquei orgulhoso, pois além de bem escritos refletem a sua percepção, sensibilidade e memória, sempre revestidas de espírito crítico, aguçado, mas sem acidez. Um abraço carinhoso do seu pai. Qualquer coisa em contrário, me comunique por e-mail. Bjs.
bali..um pais de cultura magica...!
abração!
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