segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Coesão

Cada vez menos acredito em palavras. Palavras são ditas ao vento. Ainda mais declarações de sentimentos. Entre atos e palavras, eu fico com os atos. Eu acredito em atos. Muitas palavras não passam de palavras vãs.

Com o aumento do número de pessoas morando sozinhas e o preço dos aluguéis aumentando indefinidamente, o tamanho médio das habitações torna-se cada vez menor. Vai chegar um dia em que todos os espaços serão feitos para conter uma única pessoa, o que impedirá a socialização em ambiente doméstico. Nesse dia, todos nós enviaremos e-mails diários uns aos outros e chamaremos isso de amizade.

As pessoas sempre ouvem seu nome quando, na verdade, outra coisa foi dita. Penso que, no caso dos falantes de português, é a vogal tônica que as pessoas mais ouvem quando são chamadas. No meu caso, sempre acho que estou sendo chamado quando clamam “meu deus”. Isso deve ser um sinal muito grave de egocentrismo e ilusão de poder.

Hoje eu estou de mal de mim.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Fio

Um fio de cabelo
é bem pequeno.
Pode variar
de alguns centésimos de milímetros
até 0,03 milímetros.

Um fio de cabelo
é bem colorido.
Pode variar,
de acordo com a quantidade de melanina,
de bem louros até muito pretos.

Um ser humano
possui muitos fios de cabelo:
pode variar de 100 a 150 mil.
Caem, cada dia,
cerca de 100 fios.

Saía para o trabalho
que provê o pão
de cada dia
com meu terno e
minha gravata

e entro no carro
e dirijo em meio à multidão
de pessoas, algumas
com pressa, outras
nem tanto.

Chego na repartição
atrasado, trabalho
acumulado sobre a
mesa, sento-me em
minha cadeira

e, da maneira
mais imprevista,
encontro um fio
de cabelo em
minha gravata.

Mais fino, mais claro,
mais longo, não era meu:
era seu.
Parte do seu corpo em
minha roupa.

Era mínimo,
quase imperceptível.
Um oceano
pode nascer de
um fio de cabelo.